segunda-feira, março 27

Crash

O percurso de estreia deste filme passou-me completamente ao lado, só recentemente é que falaram dele (obrigado silvia por me tirares da ignorância), acabando por ser surpresa ao ganhar o Oscar. Como não podia deixar de ser a película voltou às salas, e eu aproveitei e fui ver no grande ecrã. Com um DVD pode-se gozar do conforto do lar, mas não é a mesma coisa. É pena é que algumas pessoas vão para a sala de cinema e se comportem como se estivessem em casa...

Mas passemos ao filme, o leitmotiv é o racismo. O enredo é construído com base numa série de acontecimentos que se vão desenrolando, e envolvendo várias pessoas que não se conhecem mas se cruzam, dando forma à história. Quem achar a minha descrição parecida com o Magnolia, acertou em cheio. Parece que algumas das ideias foram tiradas a decalque, e a maneira como a acção avança é extremamente parecida. Os encontros fortuitos e as casualidades (desgraças e azares sobretudo) dão forma à personagens e à história. A diferença é que aqui vai tudo dar ao racismo.

A ideia que fica do filme é que em Los Angeles, onde se desenrola a acção, toda a gente vive com medo. Medo da diferença, medo dos pretos porque eles são assaltantes, medo dos brancos porque eles discriminam, medo dos polícias porque eles abusam do poder, medo dos chineses e dos mexicanos porque nos vêm tirar o emprego, medo de andar na rua porque se pode levar com uma bala tresmalhada. Às tantas percebe-se que as pessoas até já têm medo dos seus (mesmo credo ou mesma raça), ou seja o problema não está na côr da pele. O problema está na desumanização das grande cidades. No inicio do filme, uma das personagens fala disso mesmo, vivemos atrás de paredes de metal e redomas de vidro, perdemos o sentido do toque, perdemos os outros.

Creio que esse é o grande mensagem que este filme pode deixar. Quando o dia nos corre mal, ou estamos chateados, ou alguem no trânsito nos corta o caminho, a tentação é descarregar no objecto mais próximo. No caso do trânsito mandar a boca ao condutor da frente "ò meu granda filha da puta, tira lá essa merda daí". A solução mais fácil é chamar nomes e desrespeitar os outros, lixá-los quando houver opurtunidade. Se eu não tivesse emprego tinha a tentação de culpar alguém, se eu não tivesse que comer sentia-me com justificação para descarregar em alguém. A questão é que isso não é solução nenhuma, não leva a lado algum. Antes de exigir dos outros temos de exigir de nós próprios. Não sei se o Oscar foi merecido, mas um bom filme, que vale a pena ver.

Crash

Sem comentários: